quarta-feira, 19 de junho de 2013

Alô, alô marciano aqui quem fala é do Brasil...


"Alô, alô marciano aqui quem fala é dá terra..."
Na última ligação que Rita Lee e Roberto de Carvalho fizeram para Marte, com a ajuda de Elis Regina,nos anos 80,o mundo estava repleto de guerras, frias e quentes.Em todo o planeta existiam conflitos movidos por interesses políticos e econômicos que já se arrastavam desde a década anterior.
O Brasil à sua maneira lidava com essa avalanche de crises, além das próprias mazelas.
Havia uma ditadura agonizante e um povo que ansiava o fim dessa opressão.
Desejávamos um novo tempo!
Fomos às ruas, clamamos pelas diretas já, perdemos Tancredo Neves mas ganhamos a democracia.
Ao mesmo tempo, dos movimentos sindicais, surgia o partido dos trabalhadores.
Enfim, terminamos a década promulgando nossa, até hoje vigente, constituição.
O mundo estava tão confuso e passando por tantas mudanças ao mesmo tempo, até Cuba já não era mais de Fidel, o jeito mesmo foi desabafar com os marcianos.
Mas o tempo passou, o mundo se reorganizou geográfica e politicamente, ficamos mais tecnológicos, interligados globalmente, politicamente até invertemos os papéis, a esquerda virou direita e vice e versa.
Crescemos e crescemos, mas algumas coisas continuaram pequenas.
Velhos e repudiáveis hábitos até hoje sendo praticados, leis que de todas as formas são impedidas de se exercer, cidadãos pagando por tudo e não levando nada.
Aí um dia acordo com minha habitual resignação e, meu povo está na rua.
Todos gritam: O gigante acordou!!!
Como não falar sobre isso? Como não fazer novamente uma ligação para os marcianos?
Todos os dias sentimos o peso do desrespeito e da exploração a que somos submetidos.
Seguimos em nossas lutas diárias à espera de um milagre ou loteria que nos resgate na multidão. Porque fazer a nossa parte não tem sido garantia para vencer.
Votamos escolhendo o candidato menos pior e somos tão consumidos pelo excesso de trabalho que acabamos deixando nosso país sobre qualquer comando.
Não somos a geração que lutou contra a opressão dos tempos da ditadura. Crescemos com pais que queriam presentear seus filhos com tempos mais liberais. Tivemos a falsa ilusão de que já desfrutávamos tempos de prosperidade e paz.
Não fomos formados para a luta. Ganhamos a democracia mas precisávamos aprender a usá-la.
Por não saber, passamos muito tempo pagando a conta, sem direito a sonhar, sem direito a fazer escolhas, praticamente, sem direito a existir.
E agora, em pleno clima das copas, onde a FIFA é quem manda, meu povo não se rendeu aos encantos do futebol e se coloca em campo formando a verdadeira seleção brasileira.
Aquela que sempre foi a dona da bola, mas que a muito tempo vem deixando ela rolar.
Me sinto muito orgulhosa, não poderia deixar de registrar isso.
Minha esperança se renova, enfim mostramos nossa força e, com isso, minhas lutas diárias também criaram um novo sentido.
Marciano escute: Meu país exige mudanças,meu povo começou a acordar...
Continuamos amantes da bola, mas invadimos o campo e vamos começar a jogar!!!



quarta-feira, 12 de junho de 2013

Mãos dadas


Desde de menina sempre gostei de viver na companhia das pessoas.
A ideia de estar sempre cercada de amigos e familiares combina comigo.       Sou comunicativa e gosto muito de compartilhar  a vida com os amados.
Sempre que visito um lugar bacana, assisto um bom filme ou vejo algo interessante, tenho um instinto imediato de dividir isso com aqueles que são importantes para mim.
Não é por acaso que planejei tanto ter uma família com filhos, periquitos e papagaios. Ainda que, para isso, eu tenha precisado abrir mão de muitos outros projetos.
 E pode ter certeza, de todos os meus planos, ter uma família era o único do qual eu não conseguiria abrir mão.
Acredito que esse desejo não venha apenas da vontade de viver uma linda história de amor, mas também dessa necessidade de não estar só.
Mas, como a vida está sempre nos testando em nossas fraquezas, passo muito tempo sozinha.
Não por isolamento ou abandono, mas pelas circunstâncias. E por causa dessa solidão comecei a me questionar sobre como me comporto diante da ausência das pessoas.
Passei a me perguntar, então,de onde vinha essa necessidade enorme de estar junto a alguém.
 E mais, porque era tão doloroso estar apenas comigo?
A partir desse momento compreendi que precisava exercitar minha capacidade de estar só, ou melhor, de estar em minha companhia.
Muitas vezes o sentimento de solidão me assombrou durante essa minha tentativa de estar bem comigo mesma. Mas procurei enfrentar esses momentos  com paciência e coragem até que o desconforto de não ter outra pessoa por perto se transformasse em serenidade, em aceitação e em autoconfiança.
Aprendi muito fazendo isso!
Na verdade compreendi que quanto mais tentamos segurar as pessoas a nossa volta, mais facilmente elas escapam.
E percebi que estar comigo pode ser muito prazeroso.
Sozinha, consigo me perceber melhor. Consigo perceber quem sou de fato, me distinguindo do restante das influências que me cercam.
Além da sensação de liberdade que vem do fato de não depender da presença do outro para me sentir feliz.
Compreendi, ainda, uma última lição...
Solidão não é a falta das pessoas, mas a falta de si mesmo.
Estando verdadeiramente comigo jamais estarei só e estar com as pessoas será como apreciar a chegada de um lindo presente.
Joaquina.

Do poema Lua Adversa de Cecília Meireles...


Tenho fases, como a Lua; fases de ser sozinha, fases de ser só sua.





terça-feira, 4 de junho de 2013

Metade da Vida


É incrível como o tempo passa!!!
Outro dia me dei conta de que estou chegando à metade da vida. E diante dessa imutável realidade é impossível não fazer uma reflexão.
Acredito que chegar à metade de qualquer caminho seja motivo de sobra para refletir sobre a caminhada. E se tratando da própria vida, fica praticamente inevitável essa reflexão.
De repente comecei a pensar em meus sonhos de juventude, nas escolhas que fiz e nas que não fiz e em que se transformou minha tão projetada vida.
 Me tornei  respeitável, cumpridora de deveres e cheia de ocupações. Mas cheguei à conclusão de que, do muito que sonhei, alguma coisa se cumpriu. O restante ficou por conta das voltas que a vida nos dá.
Das lições que me foram reservadas, a mais dura talvez tenha sido justamente essa, a de não ter o pleno controle sobre meus caminhos.
E de todos os desafios que surgiram até agora, o que mais me exigiu coragem, foi justamente enfrentar esse encontro comigo.
Me olhar e perceber que estou mudada.
Me olhar e perceber que nem tudo foi possível.
Me olhar e me perdoar pelas minhas limitações.
Me olhar e reconhecer, em mim, o bom apesar do ruim.
Mas, para não deixar a  impressão de que chegar à metade da vida é somente viver em angústia,quero dizer também do que vejo de bom.
Vejo alguns sonhos realizados.
Vejo amizades e amores consolidados.
Vejo o desprender de tolos apegos.
Vejo o domínio de antigos medos.
Vejo o reconhecer de alguns defeitos e o reaprender com mais humildade.
Sim, me vejo, mais crescer do que envelhecer!
Vejo que a outra metade da vida, que com sorte me aguarda, me encontrará mais plena, consciente e pronta.
Pronta para viver com amor, generosidade e muita gratidão.
Joaquina.

Do meu sentir fiz mais um poema...

Metade da vida

O que fazer na metade da vida?
Parar não resolve
Correr não adianta
A vida, enfim, mudou de perspectiva.

O que fazer na metade da vida?
Sonhar não é mais igual
Ser já é tão real
Não é possível mais buscar o ideal.

O que fazer na metade da vida?
Rever os planos?
Aproveitar os anos?
Fugir dos enganos?
O que fazer?

Talvez o melhor seja fazer da metade o todo
E seguir...
Sem culpas, sem mágoas e com um bocado de coragem.