quinta-feira, 18 de julho de 2013

Novos tempos...


Sim, não foram apenas os vinte centavos!
O despertar do gigante nos trouxe a certeza de que novos tempos se aproximam.
Tempos em que estaremos mais atentos aos nossos direitos e aos rumos de nosso país.
Mas, como todo grande movimento é formado pelas muitas  forças que, convergentes ou divergentes acabam por o impulsionar, esbarramos também em forças brutais e negativas.
Nada que apague a importância e a beleza do que, nós brasileiros, fomos capazes de fazer e das conquistas que surgiram ou ainda surgirão dessa grande virada.
O que lamentamos, porém, são as mazelas e perdas sem reparo que causaram os desertores da pátria.
Não vejo outro nome para aqueles que se aproveitam de um momento tão importante para, simplesmente, barbarizar, destruir e agredir. Com certeza esses indivíduos abandonaram nossas verdadeiras causas para agir segundo seus piores interesses.
Assistindo ao terror, que até hoje, mancha as manifestações, acabei me lembrando de um livro que li à alguns anos. Tempo de Delicadeza de Affonso Romano de Sant'Anna.
O título do livro é também o nome de uma de suas crônicas "Tempo de Delicadeza" e acredito que sua leitura nunca foi tão apropriada quanto nesse momento.
Vou contar como conheci esse livro.
Precisei  ler Tempo de delicadeza para fazer uma prova de vestibular e ao procurá-lo para comprar passei por uma situação que acabou me mostrando a urgência de tempos mais delicados.
Bem, estava eu à procura do livro, quando resolvi ligar para alguns sebos da cidade perguntando se o teriam para vender.
Após algumas tentativas fracassadas, consegui falar em uma livraria muito conhecida na cidade.
Como se tratava de livros para o vestibular perguntei alguns outros nomes de obras que precisaria ler e a atendente foi logo dizendo, rispidamente:
_ Não adianta você me perguntar sobre esses livros, aqui não trabalhamos com livros para o vestibular!
Achei estranho, pois antes de serem livros para o vestibular, eles eram obras literárias de muito valor, mas enfim, diante da negativa não havia o que argumentar.
Então, fui agradecendo a informação e, não sei por que, resolvi perguntar sobre um último livro. E ,juro, desprovida de qualquer dupla intenção, falei:
_ Só mais uma pergunta: E tempo de Delicadeza, você tem?
A moça, que havia sido tão indelicada o tempo todo, ficou muda do outro lado. Aí me dei conta da pergunta que acabara de fazer.
Sem querer dei à vendedora, em forma de título de livro, a resposta merecida.Achei incrível a coincidência! Quem sabe não era essa a pergunta ou a leitura que faltava?
Enfim, ela não tinha a obra disponível também, mas após seu pequeno silêncio, me respondeu delicadamente e encerramos a conversa.
Desse momento, então, ficou a ironia da pergunta e a certeza de que a delicadeza anda muito em falta por aí.
Não apenas a delicadeza de pequenas circunstâncias, mas a delicadeza em seu sentido mais amplo.
A delicadeza que reflete um comportamento comprometido e consciente, um comportamento cidadão.
 A delicadeza que se opõe à violência e ao desrespeito,dizendo: Com licença, não queremos mais tempos tão brutais.
Sim, não são apenas vinte centavos! São tempos plenamente melhores!!! São tempos de Delicadeza!
Me despeço, então, com as palavras de Affonso Romano de Sant'Anna
Abraços,
Joaquina.

"Tempo de Delicadeza": 
"Sei que as pessoas estão pulando na jugular umas das outras. Sei que viver está cada vez mais dificultoso.
Mas talvez por isto mesmo ou, talvez, devido a esse maio azulzinho, a esse outono fora e dentro de mim, o fato é que o tema da delicadeza começou a se infiltrar, digamos, delicadamente nessa crônica, varando os tiroteios, os sequestros, as palavras ásperas e os gestos grosseiros que ocorreram nas esquinas da televisão e do cinema com a vida. (...)
Sei o que vão dizer: a burocracia, o trânsito, os salários, a polícia, as injustiças, a corrupção e o governo não nos deixam ser delicados.
- E eu não sei?
Mas de novo vos digo: sejamos delicados. E, se necessário for, cruelmente delicados."